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Reticências carregam vários significados... Parênteses interrompem (mas complementam).
Posted on terça-feira, julho 20, 2010

Bem- vindo ao clube

By Rafael Oliveira às terça-feira, julho 20, 2010

Lá estava eu, voltando do trabalhando, andando tranquilamente, escutando The Smiths no fone de ouvido, lembrando do peixe que eu comi no domingo quando eu vi aquele olhar. É, aquele. Aquele que te paralisa. Aquele que te dá um friozinho na barriga. Aquele que você sabe que é pra você.

"- Passa o celular!"

Não teve como eu resistir. Já tava perto demais. Ainda quis me desvencilhar mas apareceram, não sei daonde, mais três. E aí foi um pega-pega, um agarra-agarra. Um: "Bora, dá o celular!", eu: "Pera, vou dar!", outro: " Passa a carteira!", eu: "Eu não tenho carteira!", um: "Pois dá o celular, maxu!". Aí que eu percebi que já fazia um tempo que eu tinha tirado o celular do bolso mas ainda não tinha entregue, tava usando tipo como uma arma. A "doação" do celular é que foi até meio engraçada. Sabe aquela cena do Ghost que a Whoopy Goldberg (Oda Mae, é a nova...) entrega um cheque pra um freira? Foi tipo aquilo.


Para o meu desgosto depois de me assaltarem eles não saíram correndo. Mas foi aí que eu entendi aqueles jornalistas da Record, que depois que passa a imagem de um assalto filmado por uma câmera de segurança comentam que "depois de assaltar a vítima ele sai andando normalmente, como se nada tivesse acontecido..". Claro! Ou quer que ele saia correndo e gritando: "Roubei um celulá-á, roubei um celulá-á!". Se você ver(vir?) um negro correndo você logo pensa que é ladrão. É assim. É o tal do preconceito. E todos têm esse preconceito. Inclusive você e eu. Mas essa é outra questão, pra gente conversar tomando uma cerveja qualquer dia desses...

O interessante é que eu sou conhecido por ser nervoso, irritadiço. Mas é nas situações mais adversas que eu atinjo o meu nirvana. Tô bem, tô tranquilo. Tô até escrevendo sobre isso... Claro que eu tô um pouco chateado, afinal adorava meu celularzin. Ele tinha um programinha que funcionava como um controle remoto. Era através dele que eu escutava minhas músicas. Eu tinha um cartão de 4gb. Quatro gigas de música. Algo como 620 músicas que aqueles... que aqueles... QUE AQUELES VAGABUNDOS LEVARAM! FUCKING BASTARDS! FILHOS DA PUTA!


desculpa...


Não tinha ninguém por perto, nem ronda do quarteirão nem a Clarisse pra me consolar... Enfim, continuei andando e fui percebendo que todo mundo anda nas ruas meio desconfiado, apressando o passo. Uma vez eu vi uma tirinha que representa bem essa questão: no 1º quadrinho duas pessoas aparecem, uma de cada lado, para esperarem o ônibus na parada. No 2º quadrinho eles se olham desconfiados. No 3º e último quadro os dois saem correndo com medo, um pra cada lado. Eu tinha essa ideia utópica de que eu poderia caminhar tranquilo, escutando The Smiths e lembrando do peixe de domingo. Sem ficar todo tenso. Agora, se eu não quiser perder mais coisinhas vou ter que deixar essa ingenuidade de lado e entrar pro clube dos desconfiados.




p.s.1: Não torçam pra que eu seja assaltado de novo pra poder voltar a escrever aqui...

p.s.2: Por favor me passem seus número para o carteirodorafael@gmail.com

p.s.3: Alguém sabe onde eu posso comprar outro e51 da Nokia? É o original...