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Reticências carregam vários significados... Parênteses interrompem (mas complementam).
Posted on quinta-feira, setembro 04, 2008

Ode ao Nadismo

By Rafael Oliveira às quinta-feira, setembro 04, 2008


E tem aqueles dias que a gente só quer ficar em casa sem fazer nada. Nada mesmo. Nem ler, nem escrever, nem falar, nem pensar. Só nadar. E é fazer nada, não como um descanso pra poder voltar à rotina com todo o pique, é fazer nada por fazer nada mesmo. Sem pressões. É o dia pra esquecer os livros a serem lidos, o cabelo que tá grande e feio, os ônibus, as pessoas exageradamente felizes, as contas a serem pagas e o sol quente lá fora. Tudo isso dá lugar ao simples prazer de nada fazer. Tudo é nada.

São dias que planejo estrategicamente. Começo ligando para o trabalho e conto da minha terrível dor de barriga. (voz embargada, sofrida e que dá pena...-> ) "-Ei, to ligando só pra dizer que eu acho que não vai dar pra eu ir hoje não viu? Já tava até arrumado pra ir mas o negócio pegou de jeito aqui. Mas qualquer coisa, se eu melhorar, eu passo ai...". Sempre acreditam. E ainda me recomendam ficar em repouso. Pode deixar...

Tomo café da manhã às 11. Ligo o computador. Dessa vez, não pra estudar nem pra fazer trabalhos a serem entregues na aula. Nessa hora meu computador só reconhece o Orkut, o MSN e o Youtube. Ver tudo no Youtube fazendo nada me faz sentir como um rei antigo, que recruta mágicos, eunucos e dançarinas só pra me entreter enquanto permaneço, soberano e imóvel, em meu trono.

Depois de sentir meus joelhos reclamarem o fato de estarem há muito tempo na mesma posição, cedo, e vou atender aos insistentes pedidos da minha barriga por algum alimento. Depois da refeição me entrego à cama e à TV. Como um deficiente físico, me limito a um movimento de dedo. O dedo que muda os canais.

Desligo o celular, não tomo banho, não mexo na mochila nem ajeito meu cabelo. Aperto o pause na máquina do cotidiano e a rotina vai procurar abrigo em outros humanos. Não em mim. Não hoje. Hoje é dia de ser inútil, sem que eu ache que não tenha utilidade. É dia de eu ligar o “foda-se” sem que eu pense ser inconseqüente. É dia de eu lembrar de mim.

Mas é só um dia. Raro. Difícil de acontecer e, por isso, tão valorizado.



* Eita, lembrei que tenho três livros pra ler, dois trabalhos pra entregar na facu e minha chefe pediu um relatório até sexta-feira...



12 comentários

Luiza. on 4 de setembro de 2008 às 01:37  

É bom demais ficar sem fazer nada. Obrigação é uma das coisas que mais me estressam. Mas eu não posso reclamar, eu quase nunca tenho alguma coisa pra fazer. E só de pensar em fazer me dá um preguiça da porra.
Só não tenho preguiça de escrever, conversar, sair e filosofar com os amigos nos bares por aí. (y)

Acho que por isso eu não valorizo tanto ficar sem fazer nada. Muitos dizem que eu tenho uma vida inútil. Que nada, eu sou mais útil quieta. Quando eu me meto a fazer as coisas, acabo fazendo errado. :s

Gostei do texto, Rafael. Fiquei aqui ansiosa atualizando a página.
Já parou de conversar diretamente com os leitores e tá progredindo...

Continua assim que eu, particularmente, não pretendo enjoar tão cedo.

Beijos.


Jessika Thaís on 4 de setembro de 2008 às 09:33  

Olha fazer nada requer muita prática. Não é todo mundo que consegue ficar na morgação por um bom tempo. Eu, particularmente, venho treinando isso desde de quê me dei conta que fazer nada é necessário. Geralmente faço isso nos domingos, dia perfeito, pra nem levantar da cama, ver filmes repetidos, dormir na rede a tarde, e levantar apenas para ir ao banheiro, comer e beber água, mas só em extremas necessidades. São prazeres peculiares que só consegue quem se dedica a tal arte.

bj
;P


Gladson Caldas on 4 de setembro de 2008 às 09:42  

você foi ver youtube. já é fazer alguma coisa.

ei, o foda é quando sua chefe lê um texto desses.

a alegoria do youtube ficou bacana.


Vallessya Matos on 4 de setembro de 2008 às 15:16  

dias de inutilidade sao sempre muito bem vindos.
quando eu trbalahava, tinha vezes que eu fazia isso, ainda era mais covarde que pedia pra minha mae ligar dizendo isso ou aquilo =x
enfim...responsabilidades a parte, eu to indo cuidar das mninhas
beijo
=*


Anônimo on 5 de setembro de 2008 às 11:05  

Ooooouu dias assim são bons demais.
Passar o dia ouvindo música.
Minha preguiça é tanta Rafael que nem coragem pra assistir tv e entrar na internet eu tenho. Vontade de passar o dia deitada mesmo... desmaiar... pensar que por um dia eu desapareci. Muito bom quando não tem ninguém pra ficar te lembrando das obrigações...
Pena que depois vem tudo de novo...
e pior: na vida a gente programa tudo para que dias como esses sejam cada vez mais raros. :/


Ísis Rezende Costa de Lima on 5 de setembro de 2008 às 16:00  

o bom mesmo é realmente NADAR, ou seja, não fazer porra nenhuma!!!!

bom texto


Anônimo on 5 de setembro de 2008 às 19:32  

Essa história da dor de barriga não é meio contraditória à filosofia da sinceridade do post anterior? É o ser humano e nossas contradições... O exercício de práticas positivas, como a sinceridade naqueles termos que tu apresentou, é mais que válida! Então, entre um e outro momento de nada, sejamos (mais) sinceros...


Luiza. on 5 de setembro de 2008 às 21:02  

Essa história da dor de barriga não é meio contraditória à filosofia da sinceridade do post anterior?


Pois é, Rafael.
e ai, hein?


Unknown on 6 de setembro de 2008 às 19:45  

Pô... dias desses são tão raros como o 29/02...(rs)!

Mas muito bem lembrado, lendo até dar pra descansar ou pensar nisso.Mas é dificil logo vem tedio, ficar parada me deixa triste, parece que não sou muito útil.

Rafa, o texto tah muito legal. Gostei mesmo.

Ps: Não deixa teu chefe vê, pq ele vai "sacar" na proxima dor de barriga..rs!

bjus!!


Anônimo on 8 de setembro de 2008 às 14:52  

xD

O que melhor há, do q ficar sem fazer nada?
kkkkkkkkkkkkkk
Qm disser qalqer outra coisa, de todos os hobbies ou aulas d piano e coisa e tal, está mentindo!

Esperar ônibus lotado(parangaba/papicu via montese) no meio do sol qente...hahahah, jamaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais!
Melhor é ficar sem fazr nada aki...no blog do rafael!;D
Então vamos armar nossas redes e cochilar!kkkkkkkkkk


beijos!
:*


Anônimo on 8 de setembro de 2008 às 16:50  

Curti o texto, me senti num domingo ao ler;

:D


Thiago Minhoca Herculano on 8 de setembro de 2008 às 16:52  

Não entrega a mentira mais usual do trabalho não. Tá. É o tipo de coisa que todo mundo faz. Mas do jeito que anda as coisas hoje em dia é capaz do Fantástico falar sobre isso.